Encontros e desencontros!
Este alguidar de barro vidrado andava sob a minha mira há uns tempos, ali para o Zambujal, na casa de uma prima e afilhada da minha mulher, depois de ela o ter adquirido nas antiguidades. Andava, ainda, atravessado na minha mente e hoje quase sem dúvidas fotografei-o. Para mim tem história e vou contar as suas estórias. Foi feito, salvo erro na oficina do meu Pai, pelo saudoso mestre da Concavada-Abrantes, sr. Repolho, homem parco em palavras, mas também tinha algumas estórias: contava-as com o luzir dos seus olhos, no rosto, recordo. Os enfeites em branco eram executados, os da borda, mais pequenos com metade da boca de uma bilha pequena e os do fundo da peça com metade de uma boca de um cântaro grande. Bilhas que tinham defeitos e partiam-se. Como? Os pedaços das bocas referidas eram mergulhadas em barro branco(com origem na Chainça, também de Abrantes)e bordalava-se a peça em volta, ou no fundo dela. Esta depois de metida em zarcao (era a forma de vidrar loiça, ao tempo) voltava a ser cozida e ficava com o aspecto que tem, apesar de já estar corrompida pelo passar dos anos.
Chegou a altura de confessar uma coisa: tenho quase a certeza que esses "arabescos" foram feitos por mim, enquanto rapazola de 10 anos, ou até pouco menos. O meu Pai, recordo-me, de chegar ao pé de mim e dizer: precisas de ter a mão firme para fazeres esses enfeites, menino. Não é que eu não achei piada nenhuma ao fundo das peças, mas eram os alguidares que eu estava a enfeitar. Recordação? Talvez, mas quase posso afirmar que é uma peça do mestre Repolho e que saiu da Olaria do meu Pai. Enfim, quase de certeza, recordei uma parte da minha meninice. Sinto saudades do tempo de antanho, junto a este alguidar. Desculpem!