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Colectânea de documentos de apoio ao blogue "causa nossa".
Quinta-feira, Dezembro 02, 2004
Olegário Benquerença
1 É pouco provável que a História venha a dedicar mais de duas linhas ao curto período da governação Santana Lopes. Dentro de vinte anos, do ex-político e dos quatro atribulados meses do seu consulado só restará uma vaga memória. Mas é bem possível que as peripécias da ascensão e queda do primeiro-ministro cessante venham a ser tema de muitos ensaios, investigações documentais e obras de ficção. Afinal, quem tramou Santana Lopes? Jorge Sampaio? Durão Barroso? Marcelo Rebelo de Sousa? Cavaco Silva? Não. O verdadeiro culpado é Olegário Benquerença.
Foi ele, Olegário Benquerença, quem invalidou um golo limpo do Benfica na partida contra o Porto, provocando uma grave crise na Luz. Da revolta encarnada nasceu um pedido de audiência ao ministro do Desporto, Henrique Chaves. Benfiquista assumido, o ministro acedeu gentilmente a ouvir as queixas do grémio da águia, que o presenteou com um DVD em sinal de reconhecimento. Estava completada, com sucesso, a primeira fase do plano Benquerença.
O elo seguinte era o presidente do Porto, Pinto da Costa. Parte integrante do plano, embora sem o saber, o presidente portista não resistiu, como é de seu timbre, a um remoque acutilante sobre a audiência ministerial. Henrique Chaves acusou o toque e, para demonstrar a sua inocência, proferiu a célebre tirada do arremesso do DVD pela janela, certamente inspirado pela sua devoção à nobre arte do tiro aos pombos. Num ápice, viu-se ridicularizado por todos, inclusive pela direcção do Benfica. Incomodado com o ruído, Santana Lopes opta por mantê-lo no elenco, mas despromove-o. Henrique Chaves, despeitado, bate espalhafatosamente com a porta, pondo a nu as fragilidades do Executivo e a impreparação do primeiro-ministro. Último acto: Jorge Sampaio despede o governo e convoca eleições. O plano Benquerença foi cumprido à risca.
2 Foram quatro meses de ziguezagues, descoordenações e inconsistências, durante os quais a confiança dos cidadãos e dos agentes económicos se foi deteriorando à mesma cadência veloz da credibilidade do governo. Para alguns, terão sido quatro meses a mais, um tempo que Jorge Sampaio poderia ter poupado aos portugueses se se tivesse decidido por eleições imediatamente após a fuga de Durão Barroso para Bruxelas. Mas talvez não tenha sido tempo totalmente perdido. Serviu, pelo menos, para aclarar águas e proporcionar a Santana Lopes a prova real da governação. Serviu ainda para demonstrar, de uma vez por todas, que o país precisa de dirigentes solidamente preparados, competentes na política e nas políticas, muito mais do que nas artes de prestidigitação e nos truques de marketing.
Pelo caminho fica, pois, uma experiência errática e falha de cimento estratégico, gerida pelos impulsos contraditórios de um primeiro-ministro talentoso na tribuna mas geneticamente incompatível com as exigentes funções de chefe do governo. Fica também, é justo reconhecê-lo, um punhado de iniciativas interessantes e que merecem ser melhoradas e prosseguidas por quem vier a seguir. A nova lei do arrendamento, apesar das suas imperfeições, é um instrumento essencial para uma política sustentada de requalificação urbana. As experiências de gestão privada nos sistemas públicos podem igualmente revelar-se benéficas, desde que a procura de eficiência económica não sobreleve os imperativos de interesse público. Ou a ideia das portagens urbanas, com provas dadas em Londres e em Roma.
Em jeito de balanço e de aprendizagem para o futuro, resta-nos desejar que não se repitam os erros da breve governação Santana Lopes - má fórmula governativa, insuficiente preparação dos ministros, ausência de rumo estratégico, descoordenação política e operacional, erros grosseiros de casting -, que nem o dinamismo de António Mexia, a dedicação de Bagão Félix e de Luís Filipe Pereira e a presença de espírito de Morais Sarmento conseguiram disfarçar. O próximo governo vai precisar de muito mais.
Luís Nazaré, in Jornal de Negócios, 2 de Dezembro de 2004
Inserido por LN 2.12.04
Foi ele, Olegário Benquerença, quem invalidou um golo limpo do Benfica na partida contra o Porto, provocando uma grave crise na Luz. Da revolta encarnada nasceu um pedido de audiência ao ministro do Desporto, Henrique Chaves. Benfiquista assumido, o ministro acedeu gentilmente a ouvir as queixas do grémio da águia, que o presenteou com um DVD em sinal de reconhecimento. Estava completada, com sucesso, a primeira fase do plano Benquerença.
O elo seguinte era o presidente do Porto, Pinto da Costa. Parte integrante do plano, embora sem o saber, o presidente portista não resistiu, como é de seu timbre, a um remoque acutilante sobre a audiência ministerial. Henrique Chaves acusou o toque e, para demonstrar a sua inocência, proferiu a célebre tirada do arremesso do DVD pela janela, certamente inspirado pela sua devoção à nobre arte do tiro aos pombos. Num ápice, viu-se ridicularizado por todos, inclusive pela direcção do Benfica. Incomodado com o ruído, Santana Lopes opta por mantê-lo no elenco, mas despromove-o. Henrique Chaves, despeitado, bate espalhafatosamente com a porta, pondo a nu as fragilidades do Executivo e a impreparação do primeiro-ministro. Último acto: Jorge Sampaio despede o governo e convoca eleições. O plano Benquerença foi cumprido à risca.
2 Foram quatro meses de ziguezagues, descoordenações e inconsistências, durante os quais a confiança dos cidadãos e dos agentes económicos se foi deteriorando à mesma cadência veloz da credibilidade do governo. Para alguns, terão sido quatro meses a mais, um tempo que Jorge Sampaio poderia ter poupado aos portugueses se se tivesse decidido por eleições imediatamente após a fuga de Durão Barroso para Bruxelas. Mas talvez não tenha sido tempo totalmente perdido. Serviu, pelo menos, para aclarar águas e proporcionar a Santana Lopes a prova real da governação. Serviu ainda para demonstrar, de uma vez por todas, que o país precisa de dirigentes solidamente preparados, competentes na política e nas políticas, muito mais do que nas artes de prestidigitação e nos truques de marketing.
Pelo caminho fica, pois, uma experiência errática e falha de cimento estratégico, gerida pelos impulsos contraditórios de um primeiro-ministro talentoso na tribuna mas geneticamente incompatível com as exigentes funções de chefe do governo. Fica também, é justo reconhecê-lo, um punhado de iniciativas interessantes e que merecem ser melhoradas e prosseguidas por quem vier a seguir. A nova lei do arrendamento, apesar das suas imperfeições, é um instrumento essencial para uma política sustentada de requalificação urbana. As experiências de gestão privada nos sistemas públicos podem igualmente revelar-se benéficas, desde que a procura de eficiência económica não sobreleve os imperativos de interesse público. Ou a ideia das portagens urbanas, com provas dadas em Londres e em Roma.
Em jeito de balanço e de aprendizagem para o futuro, resta-nos desejar que não se repitam os erros da breve governação Santana Lopes - má fórmula governativa, insuficiente preparação dos ministros, ausência de rumo estratégico, descoordenação política e operacional, erros grosseiros de casting -, que nem o dinamismo de António Mexia, a dedicação de Bagão Félix e de Luís Filipe Pereira e a presença de espírito de Morais Sarmento conseguiram disfarçar. O próximo governo vai precisar de muito mais.
Luís Nazaré, in Jornal de Negócios, 2 de Dezembro de 2004
Inserido por LN 2.12.04
Xiiiiiiiii!! Isto parece a teoria da conspiração!
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