A União Europeia e a crise do euro
3. É hoje um lugar-comum dizer-se que a União Europeia está em crise. Na guerra das moedas, o euro em alta, perante o dólar e o yuan, dificulta as exportações dos produtos europeus, mas terá também algumas vantagens, como a de ser moeda de referência. Surgiu então a chamada crise do euro, em consequência de alguns países europeus, periféri-cos, mas não só, começarem a ter grandes dificuldades em função dos défices dos Estados, como a Grécia, ou do endividamento brutal dos bancos, como a Irlanda.
A Alemanha, com medo de ter de pagar a insensatez dos Estados gastadores, parece ter perdido o sentido da solidariedade entre os Estados da União. Na verdade, as declarações da senhora Merkel só alimentaram a ganância dos mercados, agravando a situação. Teve, depois, de recuar, dizendo que uma ofensiva contra o euro podia levar à desintegração da União. É verdade como aqui já escrevi, mas é muito negativo que ela o tenha feito.
No entanto, a crise não é só monetária. É, sobretudo, político- -institucional e de valores que condicionam o resto, uma vez que, na União ultra-conservadora que temos, os grandes Estados não se entendem entre si e estão também a perder o sentido da solidariedade, incapazes como são de dar um salto institucional que crie um governo económico, e até político, que dê uma orientação à Europa e seja respeitada por todos os Estados membros, quer sejam da Zona Euro quer do Espaço Schengen. Aliás, trata-se de duas Europas diferentes: os 16 da Zona Euro e de Schengen e os 11 que estão fora.
O Tratado de Lisboa, que não resolveu essa dualidade, começa a não fazer sentido, nesse aspecto. Por outro lado, parece ter vindo a complicar as coisas, justapondo à Comissão - e ao seu presidente - um outro presidente e uma vice-presidente responsável pelas questões internacionais. Quem se entende assim? O Conselho Europeu, com os seus 27 membros, significa, para o exterior, ninguém. Uma vez que o "motor" franco-alemão também dá sinais de não funcionar, em virtude dos graves problemas internos que ambos têm.
Não creio, assim, que Barack Obama, neste quadro negro europeu, não tenha sido capaz de extrair da Cimeira Euro-Americana nada de especialmente concreto. Só boas intenções. Foi, de resto, o que pareceu. Dos dirigentes europeus, algum propôs uma ideia nova? Merkel, Sarkozy, Berlusconi, Cameron, ou qualquer outro? Puseram a falar Von Rompuy e Durão Barroso ao lado de Obama. Mas só disseram o que já se sabia. Oxalá me engane.
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