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A euforia em torno da descoberta da ferramenta de auto-edição e das admiráveis possibilidades da informação automaticamente ligada por hipertexto (presente na blogosfera e infelizmente ausente dos meios tradicionais em linha, sobretudo em Portugal) leva os novos autores, os bloggers a embandeirar em arco. Essa euforia traduz-se nesta síntese retirada do "senso comum blogosférico": são eles, bloggers os ladinos investigadores de A Informação num mundo em que os jornalistas se enrodilham numa panóplia de crises que afectam a Imprensa… Ainda que o meu senso esteja nos antípodas do comum, não vou discutir a euforia, até porque dela tenho participado activamente desde Março de 2003, quando publiquei o meu primeiro post. Nenhuma pessoa que viva na info-esfera pode negar que há realidades comunicacionais a emergir, algumas das quais ameaçam as indústrias da informação e do lazer. Mas nem tudo o que parece é. Na última sessão pública em que estive acabei por subverter a questão: enquanto vamos sabendo o que podem os blogues trazer ao jornalismo (vivacidade, rapidez, expertise em certos assuntos, controlo de qualidade), porque não perguntar também o que não podem os blogues trazer ao jornalismo? Há respostas imediatas e outras nem tanto, uma vez que o meio está em permanente evolução e o que é verdade neste instante arrisca-se a ser subvertido amanhã. Um exemplo bem ilustrativo desta natureza periclitante. Sempre achei que os meios portugueses tinham cometido um terrível erro ao abdicarem do seu nome entregando-se nos braços dos portais. A marca Expresso subalternizou-se perante o Clix (expresso.clix.pt), o título Diário de Notícias foi engolido pelo Sapo (dn.sapo.pt), etc. Mas os estudos mais recentes acerca de hábitos de leitura em linha indiciam que os jovens (que são o público por agarrar) consomem a informação principalmente a partir de portais, que assim se valorizam mais que os nomes, marcas e títulos convencionais; afinal a «estratégia», devidamente entre aspas, dos portugueses arrisca-se a estar correcta e a minha inicial cogitação total e humildemente errada. Apesar disso, é preciso arriscar. E eu aposto nestas respostas imediatas. Os blogues não podem dar ao jornalismo autenticidade, modelo de negócio, credibilidade, sustento, ou apoio. Se houvesse uma balança comercial entre os dois mundos, a blogosfera era largamente devedora dos media: contam-se facilmente os casos emblemáticos em que de alguma forma ajudou a melhorar o jornalismo, mas são incontáveis (e ninguém os deseja mencionar) os casos de apropriação (devida e indevida) de conteúdos e de enfoques. Ainda que lhes custe admitir, a blogosfera tem proporcionado ao jornalismo mais ruído que substância. Podia ser parte da solução, mas até agora mantém-se como parte do problema.
Paulo Querido