...face aos poderosos pula como os saltimbancos e gosta de dar espectáculo. Mas fica-se por aí!...
por FERREIRA FERNANDES
Há
um texto de Freud explicando como muitos "nãos" enfraquecem uma
negação. Acusado de ter partido uma chaleira emprestada, alguém
respondeu assim: 1) não lhe emprestaram chaleira alguma; 2) a chaleira
já fora devolvida; e 3) quando lha emprestaram já vinha partida...
Vivemos um pouco com esse exagero, só que, em vez de defesas, de
acusações. Mas com o mesmo efeito: a avalanche de argumentos só serve
para os diminuir. De cada vez que um personagem público é acusado de
alguma coisa, ainda estamos a saborear as culpas e já atolam o homem com
outras culpas para o cadastro. Num dia era a hipótese de Duarte Lima
matar uma velhota e, ainda se via o fumo a sair da pistola, já o homem
estava em prisão domiciliária... por causa de uma burla com um banco
manhoso. Depois, foi Miguel Relvas, um dia a falar grosso para um jornal
e, no dia seguinte, a tirar cursos com a rapidez, e consistência, de
gelatina. Admito que os portugueses que são desenrascas para o bem,
também sejam toca a tudo para o mal, mas não podíamos parar numa culpa,
assimilá-la e, só então, passar para outra? Macário Correia é apanhado
em coisa sobre Tavira, salta-se para as suas reformas e já se vai em
coisas sobre Faro. Amanhã, se calhar Macário até fuma. Famoso fisgado em
Portugal tem para estrebuchar durante meses. Depois, quase sempre,
nada. O problema, como explicou o inspetor Freud, é que demasiadas
acusações arrefecem as culpas.
(in DN de hoje)
(in DN de hoje)
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