sexta-feira, fevereiro 24, 2012

E agora...

...resta a Cavaco Silva reinventar a sua função de Presidente, já que pensou que os seus mandatos se resolveriam com protagonismos do passado: não resolveram e muitos dos males que a sociedade portuguesa enferma advêm da governação, enquanto foi Primeiro Ministro.



Como vai sendo meu hábito, quando introduzo links para este géneros de escritos, deixo alguma coisa transcrita, normalmente o que tem mais interesse  da minha parte:

"...A estratégia falhou. As derivas (diferentes, é verdade) continuaram, ele dedicou-se a minudências, esquecendo o essencial, e acabou a fazer o impensável no momento em que a crise nacional e internacional mais se agudizava: dar posse a um Governo minoritário, que é sempre - como se sabe - um governo a prazo, sem força, que pensa mais na sua sobrevivência do que nos problemas do País.A estratégia falhou. As derivas (diferentes, é verdade) continuaram, ele dedicou-se a minudências, esquecendo o essencial, e acabou a fazer o impensável no momento em que a crise nacional e internacional mais se agudizava: dar posse a um Governo minoritário, que é sempre - como se sabe - um governo a prazo, sem força, que pensa mais na sua sobrevivência do que nos problemas do País."

"...Nos tempos que correm, exercer o poder é difícil - mas incarná-lo não o é menos. Às conhecidas características da sociedade do espetáculo, que a democracia incorporou nas últimas décadas, juntam-se agora as de uma sociedade do contacto (de proximidade e de emoção), marcada por um individualismo sobretudo expressivo, e pelo progressivo desaparecimento de quase todas as formas de distância e de quase todos os dispositivos de protocolo.
A situação não se resolve, pois, com brejeirices, como se tivéssemos entrado na época do "tiro ao Cavaco", como disse Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente deve saber que (como há muito o estabeleceu a teoria dos speech acts) em política "dizer é fazer" - até porque, sendo professor, tem a dupla experiência dessa realidade. "Dizer" um disparate ou uma asneira é, em qualquer dessas funções, "fazer" um disparate ou uma asneira.
E agora? Agora, é preciso que o Presidente da República reinvente o seu estatuto, tanto no que diz como no que faz. Ajudaria se optasse pelo salário das suas funções, em detrimento das suas legítimas pensões. E ajudaria ainda mais se encontrasse a disponibilidade e a força interior necessárias para confraternizar regularmente com a angústia e o sofrimento dos portugueses. Só um golpe de asa genuinamente solidário evitará o colapso presidencial."

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