...resta a Cavaco Silva reinventar a sua função de Presidente, já que pensou que os seus mandatos se resolveriam com protagonismos do passado: não resolveram e muitos dos males que a sociedade portuguesa enferma advêm da governação, enquanto foi Primeiro Ministro.
Não sendo propriamente um fâ do Prof. Manuel Carrilho, por vezes leio com mais ao menos atenção a colaboração que presta a muita da nossa informação escrita. Entendi realçar a crónica de hoje, colocada no DN, texto fácil de ler e que ajuda a compreender a situação da Presidência da República, apontando alguma engenharia de ação presidencial, para que Cavaco Silva não contiue refém no Palácio de S.Bento até ao fim do mandato, o que se torna prejudicial não só para a República, mas também para a vida nossa da democracia.
Como vai sendo meu hábito, quando introduzo links para este géneros de escritos, deixo alguma coisa transcrita, normalmente o que tem mais interesse da minha parte:
"...A estratégia
falhou. As derivas (diferentes, é verdade) continuaram, ele dedicou-se a
minudências, esquecendo o essencial, e acabou a fazer o impensável no
momento em que a crise nacional e internacional mais se agudizava: dar
posse a um Governo minoritário, que é sempre - como se sabe - um governo
a prazo, sem força, que pensa mais na sua sobrevivência do que nos
problemas do País.A estratégia
falhou. As derivas (diferentes, é verdade) continuaram, ele dedicou-se a
minudências, esquecendo o essencial, e acabou a fazer o impensável no
momento em que a crise nacional e internacional mais se agudizava: dar
posse a um Governo minoritário, que é sempre - como se sabe - um governo
a prazo, sem força, que pensa mais na sua sobrevivência do que nos
problemas do País."
"...Nos tempos que
correm, exercer o poder é difícil - mas incarná-lo não o é menos. Às
conhecidas características da sociedade do espetáculo, que a democracia
incorporou nas últimas décadas, juntam-se agora as de uma sociedade do
contacto (de proximidade e de emoção), marcada por um individualismo
sobretudo expressivo, e pelo progressivo desaparecimento de quase todas
as formas de distância e de quase todos os dispositivos de protocolo.
A
situação não se resolve, pois, com brejeirices, como se tivéssemos
entrado na época do "tiro ao Cavaco", como disse Marcelo Rebelo de
Sousa. O Presidente deve saber que (como há muito o estabeleceu a teoria
dos speech acts) em política "dizer é fazer" - até porque, sendo
professor, tem a dupla experiência dessa realidade. "Dizer" um disparate
ou uma asneira é, em qualquer dessas funções, "fazer" um disparate ou
uma asneira.E agora? Agora, é preciso que o Presidente da República reinvente o seu estatuto, tanto no que diz como no que faz. Ajudaria se optasse pelo salário das suas funções, em detrimento das suas legítimas pensões. E ajudaria ainda mais se encontrasse a disponibilidade e a força interior necessárias para confraternizar regularmente com a angústia e o sofrimento dos portugueses. Só um golpe de asa genuinamente solidário evitará o colapso presidencial."
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