Chateia-me que existam uns senhores que se acham donos das manifestações, dos sindicatos e do 25 de Abril. Com a queda da noite facista em 25 de Abril, esses "proprietários" da liberdade, de facto estavam cá e cresceram com muitos outros que de um dia para o outro viraram o casaco para conservarem o seu "status" social, mantendo-se à tona de uma água com corrente demasiado totalitarista. Bem, julgavam que tudo era vermelho! Todavia, havia muito mais gente, anónima, que aspirava pela democracia e que também saltou para a rua a festejar o regresso da liberdade. E que continuam por cá a denunciar esses "patrões" dessa democracia com laivos totalitários, arautos de uma sociedade melhor, onde eles seriam os dominadores e os restantes os "moiros" do trabalho. Enganem-se!...São conhecidos pela sociedade e esta sabe sempre reagir à sua falta de tolerância, com aconteceu imediatamente na "arruaçada" a Vital Moreira e à delegação do Partido Socialista na "manif" do 1.º de Maio. Em uníssono, foram denunciados!...
É tempo dos comunistas pensarem que o seu espaço na sociedade portuguesa também é de tolerância, de muita luta pelos empregos e ajudarem a criar no seio da sociedade, que se quer sempre mais justa, uma espaço dialogante na busca da boa harmonia e paz social entre todos, onde a liberdade de cada um começa, onde acaba a liberdade do outro... É tempo dos comunistas recuperarem a imagem que tinham na noite fascista! É uma questão de juízo e de bom senso.
Foi com o meu saudoso Pai, que aprendi as regras de viver numa sociedade livre e justa. Nunca votou no anterior regime, apesar do chefe da Legião local, em actos eleitorais aparecer lá por casa, no seu automóvel, para o levar a votar. Nunca foi, nunca votou e nunca foi comunista. O que eu vi, foi ele , de tempos a tempos, pedir uma tacho de comida à minha mãe, porque andava alguém a monte fugido e, esse tinha uma necessidade primária, que era alimentar-se. Então o meu Pai, arriscando a sua liberdade e a sobrevivência da minha mãe e dos filhos, não hesitava em ir ao pinhal matar a fome a esse foragido. Nunca lhes perguntou se eram desertores de delito comum, ou fugidos das masmorras por actos políticos. Outros tempos e outras concepções de liberdade.