domingo, fevereiro 01, 2009

Olaria!

Não é só na Atalaia. A arte da olaria está em extinção em quase todo o Ribatejo: mais do que ser um artesão, o oleiro quando molda o barro é um verdadeiro artista. Aos oleiros do Ribatejo a minha homenagem. Foram muitas as localidades que tiveram Olaria, e nelas conheci muitos destes artistas. Quero ver se não fica nenhuma de lado. À medida que vou escrevendo o nome das povoações com olaria, vai passando pela minha memória a visão dos velhos oleiros. São elas: Canha, Marinhais, Vale de Estacas, Ribeira Branca, Árgea, Ourém, Charneca da Peralva, Alferrarede, Medroa, Olho de Boi, Valhascos (Sardoal), Penhascoso e Mação. Teço também elogios a estes artesãos já noutro Distrito: os oleiros de Flor de Rosa. Marcavam as feiras anuais do Concelho de Mação, Sertã e Proença-Nova. Vinham na véspera da feira, com as suas carroças alentejanas engalanadas com a sua loiça típica, com a besta engatada nos varais pela canga com bornil floreado, trabalhado pelas mãos calejadas dos correeiros, também eles presentes nestas feiras. Bonito!...As peças destes oleiros tinham outro "talhe", diferente do Ribatejo. Havia possibilidade de escolha para os compradores. Engraçada era a partilha das refeições por todos os oleiros, com a mistura da gastronomia de um lado e de outro do Tejo. Sinto-me mais novo ao rever os rostos desta gente, queimada pelo sol do barreiro e pelo calor do forno.
Finalmente, a minha homenagem também para os talheiros da Asseiceira-Tomar. Cheguei a conhecer mais de trinta, hoje são dois ou três a trabalhar o barro. Se não fosse a crise actual estaria a renascer nesta pacata terra com história, que já foi sede de Concelho, uma geração nova destes artistas.
Para a Asseiceira foram arrastados alguns oleiros, por volta dos anos 60 do século passado, pois o meu Pai, também talheiro, chegou à conclusão que onde se vendiam as talhas também se vendiam os cântaros, os alguidares, cafeteiras, panelas, vasos, assadores de castanhas, etc. Aqui hoje só há um oleiro. Espero, rapaz, que as tuas filhas imprimam este post para leres e acrescentares alguma coisa a este rabiscado texto, com o qual desci a muitas olarias, lindas pelas tafonas, pelos arcos dos fornos vidrados pelo calor das crutas de pinheiro/eucalipto e, sobretudo, às peças mais largas em fresco onde se guardavam os pêros de S.João, pepinos, tomates, as uvas ou os figos, na falta do frigorífico. Mais não digo!...

1 comentário:

  1. Gostei mt de ler!
    As memorias, às vezes, fazem historia e estorias!
    :)

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