"Crise de regime" é o título da crónica de hoje no DN, de Mário Soares. Este jornal, sem eu entender bem a orientação da sua paginação, optou por transportar a alguns tempos, os cronistas para a antepenúltima e penúltima página. Vai-se lendo e desfolhando o jornal e quando se chega a essa fase da leitura, muitas vezes as crónicas são lidas por cansaço a "atravessar", com a agravante, segundo o meu ponto de vista de à terça-feira, acrescentar ainda uma outra cónica escrita com uma inteligência já pouco habitual e, de elevado conhecimento cultural, do Professor Dr. Adriano Moreira. Daí, todas as terças feiras, quando a memória não me atraiçoa começar a leitura do DN por estas duas crónicas para satisfação do meu ego e, meu enriquecimento pessoal quer sob o ponto de vista político, quer sócio-cultural.
Deixando a crónica do Professor Adriano Moreira, que aconselho sobretudo aos mais novos a lê-la, quase sempre pouco interessados na "res publica", deixarei ainda, alguns nacos da prosa de Mário Soares nesta aventura, para não dizer quase cruazada semanal. Refere a determinada altura, acerca da reunião a realizar a 11 do corrente mês de Março em Bruxelas, na Cimeira dos Estados da Zona Euro:
"Tenho bastantes dúvidas quanto ao que sairá da reunião do dia 11 de Março. Trata-se de debater o futuro do euro, o que representa, em si, um progresso. Os líderes europeus não se entendem entre si, por terem interesses divergentes e, por outro lado, não querem compreender as grandes transformações que o mundo está a viver, por toda a parte. Serão elas que os obrigarão, aliás, mais tarde ou mais cedo, a mudar de paradigma de desenvolvimento. Como está a acontecer nos Estados Unidos". Continua:"Contudo, por enquanto, na União Europeia, o primado das preocupações centrou-se nos equilíbrios financeiros - que, obviamente, são importantes - menosprezando a economia real. Ora, essa posição, para países como Portugal e Espanha, mas não só, pode vir a ser fatal. Porquê? Porque as medidas de austeridade, a que os Estados mais fracos são obrigados, conduzem-nos, necessariamente, à recessão, visto que impedem o crescimento económico, reduzem os investimentos, fazendo crescer o desemprego e podem, mesmo, provocar revoltas sociais extremamente perigosas."
Acrescenta também, acerca da "manif" do dia 12 próximo:..."Foi a propósito dessa nota que o Vasco Pulido Valente me brindou - com muita simpatia por mim, reconheço - com um novo artigo, garantindo-me que as pessoas que irão manifestar-se não são "perigosas, antidemocráticas nem niilistas", que descerão "tranquilamente a Avenida da Liberdade (...) para protestar contra a maneira como o PS e o PSD governaram Portugal, em plena impunidade, durante quase 40 anos". Se assim é, muito bem. Manifestem-se e indignem- -se, pacificamente. Só resta reconhecer que os governantes, desde que há democracia, resultam sempre do voto popular, que os legitimou em inúmeras eleições. Claro que a democracia não é perfeita e às vezes o povo engana-se nas suas escolhas. Mas, como dizia Churchill - e sabia do que falava - "a democracia é o pior dos regimes, com a excepção de todos os outros".
Fala também dos noventa anos do PCP, como comunista que foi e não o esconde, escrevendo:..."Durante o PREC, essa estratégia tornou-se claríssima. O PS opôs-se - como o Grupo dos Nove - e chegámos a estar à beira da guerra civil, evitada in extremis. Foi então que André Malraux escreveu: "Os socialistas portugueses mostraram ao mundo que os mencheviques são capazes de vencer os bolcheviques." Nem por isso deixei de proclamar, no dia seguinte ao 25 de Novembro de 1975, que o PS se oporia à ilegalização do PCP, que muitos desejavam.Passaram os anos, deu-se a normalização democrática, em Portugal, e o colapso do comunismo na URSS e nas "democracias populares", que sempre foram e só ditaduras. O mundo continua em grandes transformações, umas positivas, outras negativas. Mas o PCP não mudou. Nunca fez autocrítica, de que tanto costuma falar. Continua a ler pela cartilha deixada pelo dr. Cunhal.De qualquer modo, parabéns ao PCP. Tem uma bonita idade!"
Deixando a crónica do Professor Adriano Moreira, que aconselho sobretudo aos mais novos a lê-la, quase sempre pouco interessados na "res publica", deixarei ainda, alguns nacos da prosa de Mário Soares nesta aventura, para não dizer quase cruazada semanal. Refere a determinada altura, acerca da reunião a realizar a 11 do corrente mês de Março em Bruxelas, na Cimeira dos Estados da Zona Euro:
"Tenho bastantes dúvidas quanto ao que sairá da reunião do dia 11 de Março. Trata-se de debater o futuro do euro, o que representa, em si, um progresso. Os líderes europeus não se entendem entre si, por terem interesses divergentes e, por outro lado, não querem compreender as grandes transformações que o mundo está a viver, por toda a parte. Serão elas que os obrigarão, aliás, mais tarde ou mais cedo, a mudar de paradigma de desenvolvimento. Como está a acontecer nos Estados Unidos". Continua:"Contudo, por enquanto, na União Europeia, o primado das preocupações centrou-se nos equilíbrios financeiros - que, obviamente, são importantes - menosprezando a economia real. Ora, essa posição, para países como Portugal e Espanha, mas não só, pode vir a ser fatal. Porquê? Porque as medidas de austeridade, a que os Estados mais fracos são obrigados, conduzem-nos, necessariamente, à recessão, visto que impedem o crescimento económico, reduzem os investimentos, fazendo crescer o desemprego e podem, mesmo, provocar revoltas sociais extremamente perigosas."
Acrescenta também, acerca da "manif" do dia 12 próximo:..."Foi a propósito dessa nota que o Vasco Pulido Valente me brindou - com muita simpatia por mim, reconheço - com um novo artigo, garantindo-me que as pessoas que irão manifestar-se não são "perigosas, antidemocráticas nem niilistas", que descerão "tranquilamente a Avenida da Liberdade (...) para protestar contra a maneira como o PS e o PSD governaram Portugal, em plena impunidade, durante quase 40 anos". Se assim é, muito bem. Manifestem-se e indignem- -se, pacificamente. Só resta reconhecer que os governantes, desde que há democracia, resultam sempre do voto popular, que os legitimou em inúmeras eleições. Claro que a democracia não é perfeita e às vezes o povo engana-se nas suas escolhas. Mas, como dizia Churchill - e sabia do que falava - "a democracia é o pior dos regimes, com a excepção de todos os outros".
Fala também dos noventa anos do PCP, como comunista que foi e não o esconde, escrevendo:..."Durante o PREC, essa estratégia tornou-se claríssima. O PS opôs-se - como o Grupo dos Nove - e chegámos a estar à beira da guerra civil, evitada in extremis. Foi então que André Malraux escreveu: "Os socialistas portugueses mostraram ao mundo que os mencheviques são capazes de vencer os bolcheviques." Nem por isso deixei de proclamar, no dia seguinte ao 25 de Novembro de 1975, que o PS se oporia à ilegalização do PCP, que muitos desejavam.Passaram os anos, deu-se a normalização democrática, em Portugal, e o colapso do comunismo na URSS e nas "democracias populares", que sempre foram e só ditaduras. O mundo continua em grandes transformações, umas positivas, outras negativas. Mas o PCP não mudou. Nunca fez autocrítica, de que tanto costuma falar. Continua a ler pela cartilha deixada pelo dr. Cunhal.De qualquer modo, parabéns ao PCP. Tem uma bonita idade!"
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